DESATINO
Alecrim.
A sala toda repleta deste cheiro e a casa cheia da tua ausência.
Peixes mortos no aquário e lembranças pulsantes na memória.
Quanta discrepância entre o que se foi e o que se é agora.
Tanta vontade de voltar no tempo e retomar as rédeas do amor atropelado.
Nada a fazer.
Tudo a dessentir.
Como?
Não tenho mais as espadas da tua esgrima de almas,
Muito menos os teus golpes de capoeira a voar pelo espaço.
Estou no vácuo.
Estou no café que a máquina côa ao apertar o botão.
E saio sem gosto mundo afora
Em busca do que seria o expresso de nós.
Vai, cata tuas cinzas.
As derrubei sem querer.
Não tenho vontade de jogá-las ao mar, muito menos ao deserto.
Guardo-te no lixo que eu mesma reciclo.
Queria beijar-e em um tom que músico algum concebesse.
Dar-te um abraço de ira e desejo
Que resultaria num ato de amor lógico e insano, mas tão nós dois.
Tudo parece perdido. E está.
Tudo parece distante. E o é.
Nunca mais vi tua face nem toquei teus cabelos finos.
Ainda assim, tua voz sussurrada ao pé do ouvido é a que fala.
Tua voz ainda me arrepia.
Voz tecida de lembranças, de esperanças vagas,
Como adesivos que se colam às paredes num engano de desenho.
Tua dor de agora, sou capaz de sentir.
Porque somos a mesma dor.
Só deixamos escapar o amor
Que, de tão grande,
Alcançou o horizonte sombrio e adverso das esperas.
20-07-2013