A MELHOR COISA

A tarde vai lenta, chuvosa.
A alma invade-se, chorosa,
de monotonia pungente...
À lembrança traz
toda sorte de pensares:
               colheita de bergamotas,
               caquis maduros, manchas na camisa,
               um toque, um roçar na pele juvenil..
admirado e permanente olhar para as formas crescentes...

A tarde vai lenta, outonal.
O coração expande-se, invernal,
de sentidos dolentes...
As verdades sente
e já não muda o destino:
               a vida adulta tem
               primaveras e verões,
               momentos com emoções,
               horas de profundo refletir, 
               carências e vivências
admirado e permanente olhar para as formas decrescentes...

A tarde vai lenta, lacrimosa.
A vida retorna venturosa
com sedutora intenção...
Versos alegres brotam,
e ainda deixam a vida fluir:
               qualquer vida tem
               encantos de vinho e calor
               de um fogo na lareira....
               Um sussuro cúmplice na esperança do entardecer
               e um alegre tudo reviver,
               doce de abacate temperado com suco de laranja,
               pé-de-moleque recém saído da forma,
               um caqui maduro de lambuzar camisa e blusa,
               um beijo discreto, meio maroto,
               um roçar na pele madura...

A tarde vai lenta, lenta e airosa.
O amor se confunde na prosa
de alma e coração...
E a melhor coisa:
               outono é de bergamota e abacate,
               de lareira e tardes de chuva,
               vinhos e sucos de uva,
               doces lembranças e vivência de amor...