O ETERNO RETORNO DE MÁRCIA

Houve um dia em que Márcia despediu-se

Das coisas

É desnecessário descrever a configuração exata

Do mundo

No momento em que seu coração humano parou

De bater

Cessada a corrente elétrica que sustentava sua

Consciência

Seu corpo quedou inerte como se ali restasse

Uma boneca

O universo continuou sem cessar seu movimento

Implacável

Por algum tempo continuou-se a falar da pessoa

De Márcia

Todavia, com o passar dos anos, as coisas

Se remoendo

As lembranças foram se tornando cada vez

Mais vagas

Descobriu-se um poema escrito

Para ela

Todavia, com a distância, ninguém mais se es-

Candalizava

Os seus encontros secretos de amor ficaram

Banais

Por fim, tudo o que sustentava sua memória

Virou cinza

Vieram acontecimentos enormes

Catástrofes

E de Márcia não restou sequer

Uma estrofe

O sol engoliu o planeta e o universo

Afogou-se

Em um colossal e instável oceano

De energia

Contudo, no seio de Deus estava a ânsia

De Márcia

Entre bilhões de bilhões de ânsias que ali

Se juntavam

Foi tanto desejo que a coisa única

Precipitou-se

Em noventa e dois tipos de átomos

Frenéticos

Submetidos às misteriosas quatro forças

Fundamentais

E se multiplicaram as combinações e descombinações

Mais loucas

Tentado satisfazer as bilhões de bilhões de ânsias

Em espera

Com a infinitude das tentativas

Finalmente

Aconteceu a mesma seqüência de

Fatos

Que trouxeram Márcia, como Márcia, para o mundo

Das coisas

Vinda dos mesmos pais, escolhendo o mesmo

Marido

E vivendo o mesmo breve caso de amor com o

Poeta

Que um dia, entre os breves lençóis de um motel

Lhe disse

Inferno e céu se fazem aqui mesmo

Na terra

Seja plena em cada momento desta vida. Ela lhe será

Infinita

Enviado por Jimii em 20/01/2008