ECOS

Cantaste como quem brota de um hibridismo telúrico vindo do ventre das bocas que germinam rosas nas alamedas de nós dois.

Cantaste com mil gargantas no afago do beijo que cala o soluço.

E assim cantaste todos os silêncios que têm medo das raízes do nosso chão. Mas ardentemente cantaste.

Cantaste como quem chega e sabe partir sem promessas; como quem se aproxima numa calmaria de anjos; como quem conhece o segredo dos ecos e como quem bebe a enormidade das distâncias.

Cantaste para o meu peito, para minha voz e para meus horizontes.

Cantaste a quimera dos esplêndidos no augurar de futuras primaveras.

Cantaste afagando meus olhos lacrimejados de prazer, no torpor mais louco e abnegado e no aconchego mais sutil de um sorriso.

Cantaste a fertilidade das luzes fazendo adormecer estrelas.

Cantaste um poente que se esconde para revigorar vidas.

Cantaste o suicídio dos encontros no reencontro dos lábios. E cantaste a gravidez das flores para que fossem concebidos perfumes.

Cantaste o sangue não derramado e a cicatriz que não existe.

Cantaste avidamente o desejo da existência, o gozo, o orgasmo, a liberdade de se saber livre, como se os campos te possuíssem num poder de deuses.

Cantaste e cantarás sempre. E eu vou te ninar sempre. No meu colo, no meu amanhã e no meu cantar.

Fernando Varela
Enviado por Fernando Varela em 19/07/2013
Reeditado em 13/02/2015
Código do texto: T4394900
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