Quem és tu, poeta insana?
Quem és tu, poeta insana, que branca sendo
me lembras a origem africana?
Não sou ninguém, e nada sendo,
sou apenas a pitoresca capulana
que te embala, que te acalma, te enlaça, te abraça …
A que, cruzada na rima aberta, lenta e franca
de um silenciado poema
traça rotas de Vento e Sol e Alma!
A que, a um só tempo… é Terra e Mar é Lua e luar.
Por tanto te amar!
Serenada, serei quiça, pigmento de Sol Poente
no recorte esfíngico da alba flor do sal.
Escuta este grito …
Sou Africana convicta, sentida, anunciada,
inscrita na matriz e na raiz,
não desta, mas de muitas transactas vidas.
Em passos perpetuamente calcorreados
em profusão. Na transpiração salina dos pés
impressos na argila alaranjada dos nossos caminhos …
e na carne atravessada por milenares espinhos...
Não sou nada e nada sendo ... serei talvez
poeta ensandecida em busca
da parte de si perdida!