Confronto
Se é mesmo o que tu me dizes,
se é tudo o que tu me declaras,
que um dia seremos felizes,
que nada na vida separa
aquilo que fomos pra nós,
aquilo que fomos pra vida;
de um o outro tinha a voz
que nunca seria esquecida.
Que tudo era mais confortante,
e estávamos perto de nós;
que nunca houve coadjuvante
que andasse de um jeito atroz,
querendo seguir adiante,
o orgulho na face escondido;
no peito, o disfarce gritante,
mostrando ter se arrependido.
Se é mesmo o que tu me informas,
que juntos nós somos um só,
e que não existirão normas
que irão desatar esse nó;
que é mais que uma vida, é um dilúvio
de amor que inunda a razão;
e que tanto faz o deflúvio
se é muito maior a emoção.
Se a manga, é o que já te disse,
caiu de madura num instante,
o nosso amor na velhice
ainda será debutante;
ainda terei teu sorriso
no rosto tão irradiante,
e em tudo o que for preciso
ainda estou confiante.
Mas sempre me achas na porta;
nem sempre te acho em casa.
E a minha presença conforta;
e a tua ausência me arrasa.
Mas nunca ela me aniquila,
pois chegas de novo exultante,
tão doce no meio da vila,
tão meiga, o olhar repousante.
Vêm todas, se põem na janela,
pois sabem que és a mais bela.
Rio, 08/06/2005