O TOQUE
Não me cutuque!
Não gosto disso
e tu sabes quanto
irrita-me contato
físico não desejado
quase obtuso
os dedos sujos
as unhas roídas
comidas por ânsia
de cutucar, tocar
onde te proibi.
Te dei espaço
pra que afagasses
todo meu peito
não satisfeito
deixei o colo livre
porém não obtive
sucesso, não perdeste
teu feio vício
e me submeteste
desde o início
um inquietante
teste de paciência:
cutuca a parte
revive tua ausência,
desespera arte,
aperta saudade,
alerta vaidade,
injeta saudade
na imobilidade
acostumada
do meu ego.
Te peço: pare!
desarme
o contra-taque,
não me cutuque
escute
fique aqui: junto
ouça o toque
aceite o mundo
talvez imóvel
talvez imundo,
com sorte o tudo
se traduz
e teu contato
que me seduz
de imediato
seja aliviado?
o sabor amargo
lembranças pesadas,
só o confortável
da tua mão esquerda
a palma que veio
e fechou junto a mim
meu coração inteiro
nossa eterna briga...
Pura intriga
da oposição
eu já estou gelado
não importa
o quão quente
seja teu toque
deixei de lado
o devaneio triste
agora me irrita
tanta palpitação
tanto clima
teu convite
pra celebração,
a química
dessa dança
isso cansa...
Faça as honras
leve embora
o cansaço
e me deixe
ajuizado,
apalavrado
em teu sorriso.
Da vez próxima
ao me cutucares
estejas ótima
e te prepares
não haverá entraves
contragostos
decepções
armadilhas
contrapostos
oposições
poesias,
somente o cru
o marcial
o violento
o corpo nu
o banal
o movimento
e te amarei
como tu queres
sem restrições
meu eu e teu tu
livres intempéries
conquistando
destruindo
até nada restar
e o amar
esteja acabado,
o que tiver restado
esteja completo
em estado
do jeito certo
e seja eu que passe
a te cutucar
pro resto de nosso entrave
quem sabe não entendas
porque me irritas tanto
e te cutucando
continue a gente
assim se amando...