Venho d’outra banda...
Perdoe-me chegar assim tão de repente. Não tive a intenção de te assustar. Não se surpreenda com minha presença, sou apenas um vento a soprar. Venho d’outra banda... de terras distantes e insólitas , deixando em cada passo sangue e memórias... Vim pra este lado... D’antes desconhecido... Com passos imprecisos atravesso o invisível... Venho do lado de lá... Sem abrigo, venho nua... Despida de medos, plena como o luar. E... quanto mais perto chego, sinto que meus pés vacilam, pois não conheço este lado da aurora... Vim da escuridão... Conheci o desassossego da noite, a inquietude da madrugada... Na brisa dormi meu sono e a névoa me cobriu... Do lado de lá uma voz... Sussurros inaudíveis, réus amordaçados. Venho pr’este lado... Entre os dedos trago o sol... que queima e toca o mar numa doce despedida, do outro lado a noite espera a vida que ansioso o dia trás. Venho de lá, do outro lado da incerteza... onde a dúvida envenena os dias... pensei ser céu, era argila... matéria bruta nas mãos de um poeta... de palavras me fez prosa, laivos de poesia... talhou versos em Minh´alma e me sangrou até a morrer de amor...