Nascido no meu colo
Nascido no meu colo
Viver é escapar das lâminas usando as luvas
não tocar as coisas, sumir nas multidões.
Fugir dos ventos que trazem os cheiros,
colher as mares com as mãos.
Se o vento te enlaça transformando-te em cinzas,
as palavras são iguais, una os versos que habitamos.
A desilusão fez casa em sua alma?
Corra, persiga o sonho ... Tenha calma.
Eu aprendi a língua das lembranças,
sou minoria de jardim, de pedra e areia
ocaso de chuva delicada, e o sol me clareia,
vivo de eterna esperança, de minúcias,
uso a destreza para minorar, o amor que me incendeia.
A primeira vez que nos apartaram
eu endoideci a janela de tanto olhar a rua
num olhar vazio, mudo e estático,
não conseguia imaginar-me não ser mais sua.
Dias e dias me traziam a noite amarfanhada
sem querer escrever as frases que não vinham
a dor degolava as sílabas num sangue jorrante
as palavras rubras ao redor do produto acabado
deitado no papel, parido, no silêncio calado.
Lakshmi
(L.T.)