Chá aos fantasmas

Como ventania desordenada,

aportou-se desenfreada

ante ao meu império de certezas.

Varreu-me as ruas tuas levezas,

alçou-me às alturas tuas loucuras.

Abriu-me as dimensões de humanidade,

aflorou-me as verdades de outrora.

Hoje, dançam cores no horizonte

como fonte de esperança aos meus olhos.

A canção inculta na alma agora é fato,

trato apenas de abafá-la ao mundo

mas não dentro de mim.

Vivo assim, gravitando em anseios,

ponderando meios de vê-lo sempre

em sonhos, nuvens, pensamentos.

E os tais estranhamentos não incomodam mais.

Jamais julguei-me capaz de sentir,

admitir a fúria dos sentimentos,

a revolta das vozes em minha cabeça.

Mereça eu ouvi-las em censura,

a candura de tua face

transmuta toda a celeuma em afago,

em verbo leve e sereno.

Tudo se acalma em meu universo,

no mais, porque não dizer em verso,

em prosa toda a polvorosa em que me encontro.

Que me resta agora senão rearranjar,

senhorear a anarquia instaurada nos cômodos d'alma

e com calma, servir chá aos fantasmas.

Rir com eles de minha própria tolice.

Explanar-lhes toda a precariedade de entendimento

para com a fome, seca e nós mesmos.

Como sofremos pelo mal que não temos!

Custo a crer e tornar a dizer:

Esses lençóis que passeiam voadores

ainda me são os melhores entendedores.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 05/04/2007
Reeditado em 05/04/2007
Código do texto: T438164
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