O QUE A AMEIXEIRA NÃO VIU
O que as flores brancas não viram?
Quando peguei de leve em tua mão,
Quando os meus olhos fixaram nos seus,
Quando minha boca provou teu gosto,
Quando meu coração quase saltou do peito?
Será que elas não viram a maldade como inocência?
Ou não viram o desejo se tornando saudade?
Viram o homem voltando à adolescência?
Perderam o sonho se tornar realidade.
Não viram o sal da água que vertia em teu olhar
Quando de sombras teu presente se enchia,
Nem o suspiro ritmado do teu hálito
Quando teu lábio, em frenesi, intumescia.
Não viram teu rigor sereno e belo,
Quando em palavras assustadas despedia,
Não viram teu abraço quente e terno,
Quando da loucura de deixar-me esquecia.
Não viram quando o frio da madrugada
Testemunhou o coração que se partia
Por um amor que há muito tempo sufocava
Em fugas e cartas, ao recordar, se consumia.
Mas também perderam cada sorriso,
Que surgia sem censura,
Em palavras desenhadas em nosso vidro,
De carinho e de ternura.
E aquela manhã de um dia santo,
Por que não viste, Ameixeira doce e bela?
Ah, como foi bom recordar da flor branca,
Que ao beijo escondido serviu de tela.