castigo merecido
sempre ternuras sombrias
nas horas de solidão,
quando não estás mais por perto
tudo parece um deserto,
sobras da imensidão
e há esse medo no espaço
zombando do que respiro,
passos enganam o ouvido,
vozes chamando o marido,
quanto mais penso, mais piro
no ronco da trovoada
o desespero é audaz,
chuva que lambe a vidraça,
vento fazendo arruaça,
nada me diz onde estás
no meio dessa tormenta
às vezes vem a lembrança,
tua camisa listrada
sobre a cadeira jogada,
restos de uma esperança
acendo o fogareiro
e do progresso me rio
quis ter contigo o futuro,
mas hoje está tudo escuro
e não encontro o pavio
se hoje tenho a liberdade
que algumas vezes não tinha,
sabe o que faço com ela?
jogo-a pela janela
ou ofereço à vizinha
mas me concedo a desculpa
por não viver mais contigo,
se acaso fui preciosa,
mui companheira e amorosa,
então mereço o castigo