Se nada sou ...
Ácidas, as lágrimas, gotas bojudas, rebarbas inteiras,
resvalam num espaço de fronteiras eliminado.
São granizos corrosivos, pontiagudos, navalhas afiadas
a escanhoar os brilhos e as cores das madrugadas.
Translúcidas, provindas das pedreiras de um passado.
Rolam mudas, abafadas. Deslizam quentes, torrentes,
do corpo aos paralelepípedos da estrada.
Sem estrada!
Não me encontro neste palco em que me habito.
Doem-me as entranhas verdes, permanentemente
expostas em esperas. Esperaram a vinda dos abutres,
as garras das feras. Aguardam serem pó de novo solto,
derivado da pedra que fui outrora, a sibilar na encosta.
Sem rota!
Não me acho, não me sei ... Morta, a alma pranta!
Que eu ... derivei de um tempo, em que me não encontrei
e de novo aqui, de novo me perdi, sem sequer ancorar.
Batel de pedra, cometa a despenhar... estrela sem brilho,
em movimento circular. Vento ... Vento ...
Extenuada afirmo: - Se nada sou ...
Sou apenas uma brisa dobrada no joelho do tempo
que te escuta e que viaja cruzada no teu lamento!