PAIXÃO NA PAULISTA
Era hora do rush em São Paulo.
E eu andava, assim, com meus dilemas.
Contra-fluxo de todo sistema,
arremedo de um bom cidadão.
Eram seis e trinta de um verão
de uma calor abafado e ardente
E eu suava (ainda inocente)
ante tudo que iria viver.
De repente, me vi ofuscado
pela bela de jeito agitado
que surgiu em meio à multidão.
Emanava um calor,
uma chama,
um desejo,
uma estranha doçura...
Luz del Fuego no meio da rua!
Carceragem com um rosto solar.
E eu freei o meu passo apressado.
Cavalo xucro preso por um laço!
Fera vencida em tourada de Espanha!
Senti no peito o varar de uma espada,
de uma lança feroz que transpassa
e ainda zonzo voltei meu olhar
(à procura do rosto solar...)
Para mim era puro poema,
feito a moça do sol de Ipanema,
visão semelhante à do mar.
Bem depressa tratei de segui-la,
mas o fim da avenida surgia.
Feito emblema,
enigma,
signo:
Uma esfinge que vem devorar!
E eu sozinho enfrentando o feitiço
que era o viço da dama ao andar...
Mas o rush em São Paulo
é uma dança...
Um bailado,
um forró animado,
onde todos terminam sozinhos(!).
Festa estranha demais de entender...
Procurei-a por todos os lados
(como bicho de faro apurado).
Mas a moça já tinha sumido,
se esquivado sem deixar vestígio.
Ah! São Paulo de amores perdidos!
Dessa graça do encanto instantâneo...
Da paixão que se acha e se perde
no abrir e fechar dos sinais,
no metrô que prescinde do cais,
no olhar sedutor que se lança
nos cinemas e bares, boates...
Nos nasceres de sóis escarlates.
Sentimento rompendo o concreto.
(coração no compasso do verso).
Betoneira da selva de pedra...
E com ela misturo essas cenas.
Para erguer edifícios-fonemas.
E chegar ao meu céu... Com poemas.
Goimar Dantas
03/04/07
São Paulo