Segredos...
Moça, canta silenciosamente teu verso
E embala teus sonhos
Enquanto escorre o rubro pranto...
Enquanto as vestes ainda se arrastam aos pés da cama
E nu, ele clama teu nome, duas vezes
Enquanto dos lábios aos lábios há o beijo
E dos segundos não se finda o tempo
Moça, dança, move e perfuma as cortinas, o cetim morno de Amor
Enquanto ele adormece num sonho qualquer
E, indelicadamente, deixa-te feliz, quente, debruçada sobre seu peito
Canta e dança e sonha
Que teu voo não seja mais ausente
Enquanto não tiveres mais aquele medo empalidecido
Da entrega, dos desejos menos sóbrios
Gira o quarto no teu ballet de palavras
Abrindo as asas qual borboleta branca
Dos céus à terra sucessivamente
Enquanto a noite cai, mais doce que o raiar do próximo dia
Moça, depois venha
Depois de ter deixado nas mãos dele a menina, a larva finda,
Eis majestosa a borboleta branca, volta Mulher para nossa casa.
Volta em caminho aspirando a brisa do Amor derradeiro
Já que em ti, outro não possa haver
Por mais desamor que ele te há guardado
Volta, após renascer.
Guarda numa caixa rosa os beijos e a saudade
A dúvida do amanhã
Do contínuo fluxo de Amor, deste faz-de-conta
Guarda, após chorar abraçada ao pó do tempo
Deste tempo desumano que não é capaz de retornar aos corpos
De dar a si mesmo mais tempo para a quase felicidade...
Mais tarde, moça...
Adormeça, em sonhos, em vida, em alma e melodias
Precipite os pensamentos ao vento e deixe-o levá-los todos
Para que a vida seja menos amarga e a morte mais doce
Para que a caixa de segredos seja selada por Deus
E só Seu muito Amor possa abri-la novamente!