Beijo egípcio
Como dunas quentes o olhar
personificou os sentidos do andarilho
refém de suas pegadas.
O calor atormentou os pensamentos
e a salvação estava no ventre coberto
por charme da dançarina misteriosa,
que atraiu o pobre homem.
Desgastado, com poucas saídas,
a miragem de águas frescas e
mansas se tornou impossível de ser vivida.
Um grito de socorro queria ser
liberto, porém o medo de encontrar
as feras do deserto o intimidaram.
A salvação estava acima dele,
nos lábios da dama de vestes brandas
escorrendo como lágrimas pelas areias ferventes.
Lábios desenhados pelo tempo e
delineados com suavidade para ilustrar
o cenário inabitável.
O aroma exótico encantou as narinas
sedentas por misericórdia e encheu
de esperança aqueles olhos famintos.
A dama levitou pelo desespero e
enfeitiçou com bom afeto o necessitado.
Sentiu-se feliz, mesmo quase morto pela perdição.
Desabou na camada impetuosa e
seus membros se transformaram em rachaduras.
As belas mãos do ser inimaginável
o acolheram em paz.
Ele descansou em seus braços e
quando seus olhos se abriram novamente,
foi surpreendido por um novo desacordar.
Dançando sobre o seu sono, a dançarina,
menina-mulher, deusa do deserto
acabara de o beijar.