Alma Sertaneja
Talvez eu queira incendiar as pupilas dos teu olhos
na poeira dos caminhos por andar. Queira ver
na tua íris de gelatina (esse olhar que me domina)
a cintilar, o interior bravio do meu sertão por desbravar.
E o vento corredio a dobrar o espectro do teu corpo.
E as nossas histórias cruzadas em faúlhas incendiárias,
diferentes e tão iguais, na resteva das searas imortais.
E o cheiro agridoce do pecado
a povoar a sanzala alaranjada, quando o teu corpo
aportar, balsa ou jangada, no meu corpo, cais ou porto.
Em danças de luar, felinas e tribais.
No cumprimento de antigos rituais.
E depois do amor acontecer, correr emancipada e nua
no terreiro de lama, na verdade quente da rua ...
Ser Lua ...
Sorver uma a uma, todas as inesgotáveis gotas
d’uma divina trovoada tropical, no ungir do sal...
Ser primitiva, berço. África em ti,
quando o Sol desenhar o teu corpo no lençol
anil das águas. E tu fores apenas animal,
no Abril dos meus braços. Apaixonado paiol,
nos rios, fontes e riachos.
Sim, quero-te ser, inteira. Alma Sertaneja,
na corrente espuma, lava e bruma, das áfricas cachoeiras.