Cúmplice a Lua Cheia ...
Tenho lágrimas de sangue coalhadas nas narinas
e dos meus verdes olhos, espreitam pupilas assassinas.
O vento escorre-me ácido na garganta intensa dum tempo
sem palavras. Sem legendas.
Dos braços, soltam-se os raios que incendiaram a sanzala
e o corpo tem o registo do grito, da dor, do corte, do tronco.
Rouco, o guincho atravessa a a cor da luz,
move-se no fuso parco de um moinho de vento.
Sem velas! Sem fronteiras, espaços territoriais,
grunhem em mim e por mim
as vísceras ainda quentes dos estripados animais.
Sacrificados ao Templo dos Deuses, morrem a ritmos
lentos, morrem como eu, a cada momento.
Morrem na roda viva das horas. Mutilados, na voz silenciada
do pó das estradas, das casas sem paredes, das persianas
sem janelas. Aguarelas desenhadas à catanada
nos mangais bifurcados, rios de feras atolados.
Toldados, os teus e os meus sentidos
soltam-se em vagidos ritmados, reajustados,
na cadência da brisa em queda nas costas frias da terra.
Elevam-se os ritmos, os corpos incendeiam a fogueira
alaranjada das coisas revividas.
O suor mistura-se com a saliva.
Enterras a espada de guerra no âmago láctico de Geia,
nas profundezas da mais recôndita floresta primitiva.
Sobre nós, flutua agora cúmplice a Lua Cheia!.