CANÇÃO NOTURNA
A despeito do amor que me sufoca,
Invoco seu nome enlatado na garganta.
Neste desovar de vogais reencontradas,
Desfaço o dique frágil do meu pranto.
Do meio termo que sou sem você,
Sou metade de tudo do que não sou
E se acaso me toca o silêncio depois
Canto à noite que de mim se debulhou.
Entre as notas dissonantes que se fizerem,
De agora em diante será sempre assim:
Comerei a aridez de minha própria carne
Para sorver o que há de você em mim.
Coagularei meu sangue em vinhas estrangeiras
Comungando o espírito da aventura,
Reeditando meus verbos em outras rimas,
Buscando nelas o viço das coisas suas.