A ESPERA
Quando chegar: Abra a porta
Não esbarre a pobre campainha
Não desespere minha calçada ou
afie seus passos, até então mansinhos
Quando chegar não se preocupe
Já há tempos estarei lá
No recôndito escuro bem abaixo das janelas
No encalço daquele cantinho que nem sequer ocupa espaços
Na sombra, na memória, no escurinho
No menor dos menores lugares, aquele que você ainda tem para alugar
Ou talvez, quem sabe, me emprestar
para que eu possa ficar sua inquilina então te clamo vivaz:
Posso ficar aqui meu coração?
Quando chegar não gaste seu tempo
Preocupando com a espera
Não se acanhe com as janelas fechadas
Ou tenha medo do barulho da fechadura
O que se fecha protege para que poucas coisas entrem
E me escondo de tudo que me amedronta,
de tudo que não seja ou não tenha a pura forma de VOCÊ
Quando voltar use a chave que lhe dei
E CUIDADO, NÃO PERCA
É... que não guardei a cópia
preferi o escuro do pleno cuidado dispensado por você
que a incerteza de um assalto ou um ingênuo descuido que me faça perder o acesso ao que não mais é meu...
Quando voltar
não tenha medo mais ninguém há de encontrar
que não um pedaço perdido e saudoso de você mesmo
Aos cantos inquieta por te ver...
Quando voltar saiba
De longe já soube eu daquilo que ouço
dos passos descompassados pela calma do encontro
ou da euforia trêmula que meu peito não guarda
em calma e harmonia
Quando voltar não se assuste
Nada mais além de alguém há que se encontre
Alguém ausente de si mesmo
Afinal, como posso achar-me se
ausente você está de mim?
E enfim, quando voltar, não se assuste
Ao me ver há de reconhecer,
mais uma vez, um pequeno pedaço
APENAS DE VOCÊ