O porteiro da ferrovia
Sabe, chefe eu andei pensando
As coisas aqui estão modificando
O que era velho se modernizando
No entanto no trecho que vivo rodando
Os erros ainda estão se passando
Com pessoas e lixo se tropeçando
No meio da linha, gente se drogando
Alguns com suas vidas se arriscando
Usando pretexto que estão trabalhando
Homens de preto a beira da linha
Confiantes e distraídos
Falando mal de sua vizinha
E do time que tinha perdido
Devido o sol estar mais que ardido
Até encontraram local preferido
Debaixo da sombra e bem escondido
Cruzando a linha em local indevido
Talvez sua ficha não tenha caído
Perdendo a noção do tamanho perigo
De quantos o trem já tenha lambido
E desfeche fatal que tenha ocorrido
Aparecem dois caras uniformizados
Dizendo que já estão autorizados
A seguir viagem na cabine ao meu lado
Com arma no coldre e peito estufado
Coitado de mim se tivesse negado
E as pessoas que eu vi eles vêem também
Mas com seus poderes, vão bem mais além
Chamando no rádio o que anda de moto
Feito robozinho de controle remoto
E o colega do trem que cruza comigo
Acena pra mim sobre algum perigo
Avistando que atrás passava um mendigo
Papeando com um vig como bons amigos
Gesticula com a mão pra buzinar
Pra que eu não viesse a atropelar
Quem deveria as pessoas guardar
E alguma tragédia pudesse evitar
Sabe chefe continuo pensando
É hora do almoço, não estou agüentando
Faz tempo que estou de barriga roncando
Cansei de viver rodando e lanchando
Acho que posso estar me arriscando
Periga acabar me prejudicando
Quem sabe um dia vão me compreender
Quando tenho fome, preciso comer
Já que na escala não vou mais poder
E na plataforma alguém pode ver
Bebo mais água pra fome esquecer
Ainda me deixam água carregar
Era só o que faltava esse povo inventar
Tanta coisa importante pra se preocupar
Ao irrelevante querem nos privar
E essa nova mochila cheia de tranqueira
Que falta espaço pras minhas besteiras
Desculpe-me chefe só falo asneira
Falo mal da empresa e da vida alheia
Queria ter o seu entendimento
Um pouco do seu comprometimento
Aceitando tudo em todo momento
Com medo que possam tomar seu assento
Se o chefe nas férias quiser relaxar
O seu notebook nem pense em levar
Pois se na intranet quiser pesquisar
Esqueça as paqueras e vai se mandar
Já encontrou sarna pra se coçar
E correndo adoidado pra empresa voltar
Se o guarda de trânsito quiser te multar
Finja que não viu sua caneta usar
Pra não ser tentado em querer o imitar
Com essa mania de comunicar
E parar na cadeia pra se explicar
Cacoete assim pode te atrapalhar
Acredito que agora aprendeu a lição
Deixa o pássaro voando
E não preso na mão
Tem gente vacilando
E esquecendo os irmãos
Sabendo que a gente é tudo pião
Das cabeças que rolam caídas no chão
Nunca vi uma delas, ser de algum grandão
Minhas idéias pra empresa não importa
Apenas sou pago pra abrir e fechar porta
Do povo que o trem quase não comporta
Mais vale é o dinheiro de quem se transporta