LÁZARO PARABRISA
direção tomada acaso indica caminho,
perdi-o e nele encontrei a mim indo.
chuva que não vale a pena o parabrisa,
chuva que faz do passo vagar encosta,
do caminho muro, rente
calçada de condomínios cercados.
casa cheia, é velório: os mortos velam o morto.
casa vazia, tudo é cena: a vida
perdida, os dias e os ganhos.
No escuro de entre as plantas desce ávido a rampa e vai
de encontro à neblina turva de onde emerge Lázaro.
_Que queres que faça eu por ti,
tu não carece, limpo, sujar-te. Já eu, decomposto fica
bem: eu fica, tu vais. Que noto medo no teu ver
minha paixão, 'inda comovo-te.
Toca-me a carne, sê pronto...
... e arranca te, e a mim, daqui.