LÁZARO PARABRISA

direção tomada acaso indica caminho,

perdi-o e nele encontrei a mim indo.

chuva que não vale a pena o parabrisa,

chuva que faz do passo vagar encosta,

do caminho muro, rente

calçada de condomínios cercados.

casa cheia, é velório: os mortos velam o morto.

casa vazia, tudo é cena: a vida

perdida, os dias e os ganhos.

No escuro de entre as plantas desce ávido a rampa e vai

de encontro à neblina turva de onde emerge Lázaro.

_Que queres que faça eu por ti,

tu não carece, limpo, sujar-te. Já eu, decomposto fica

bem: eu fica, tu vais. Que noto medo no teu ver

minha paixão, 'inda comovo-te.

Toca-me a carne, sê pronto...

... e arranca te, e a mim, daqui.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 29/05/2013
Reeditado em 31/05/2013
Código do texto: T4315257
Classificação de conteúdo: seguro