Toma-me tua

Toma-me nas tuas mãos como se fossem grades

de uma prisão secreta. Toma-se com a urgência

de quem, faminto, aprisiona na corrente de um olhar,

uma a uma, as migalhas caídas do pão a desfarelar.

Toma-me a boca recortada do luar, e dela

sorve gota a gota o sabor do firmamento.

Toma-me as mãos, estas cristalinas que te ofereço,

para que nelas coloques a girar, menino travesso,

o teu corpo, pião confesso, na corda do meu fiar.

Toma-me tua. Enclausura-me a alma no claustro

mais profundo de ti mesmo.

Em troca oferece-me a tua, para que a tome sagrada

no sacerdócio do meu ser.

Deixemos então, nesse momento, o amor acontecer.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 30/03/2007
Código do texto: T430919
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