Amor Vampiro
De um pranto seco salgado a face
de um totem no pesadelo esquecido
revi você nua entre as quimeras
e te recolhi ao ventre do meu abrigo
e você sorriu e bebeu do meu sangue;
oh vampira, beba também de minh’alma
e mate sua sede de eternidade
e no beijo sinta o gosto da minha idade.
De um canto seco e agudo do vento
que se fez audível pelos ecos e oceanos
te recolhi na última nota dissonante
e você fez guarida em minhas pupilas
e adormeceu tranquila até o alvorecer
e bebeu da minha seiva luminosa no despertar;
oh vampira, beba também meu espírito
e sacie essa vontade de viver liberta.
De um leito seco um rio escasso
que trilhou sendas até morrer
então ressuscitei-te e acolhi-te
entre meus braços que não tem fim
e você floriu as flores mais secretas
e nos caules bebeu do cálice de mim;
oh vampira, alimente-se da minha essência
e transmute-se no festim dos elementais.
No pranto seco salgado a face
o gosto da recordação do seu olhar
e na brisa que soprava do leste
alguns vestígios da sua olência;
então eu me perdi na nostalgia
e você partiu e levou minh’alma;
oh vampira, você roubou meu espírito
e meu último sonho te deu asas
e você voou para bem longe das estrelas
mas, ainda aguardo seu retorno
pois, guardei no meu peito junto ao meu
o seu miserável e dócil coração.