TRIÂNGULO AMOROSO
"E que noite! Que luar
E que ardentias no mar!
E que perfumes no vento!
Que vida que se bebia
Na noite que parecia
Suspirar de sentimento!"
Álvares de Azevedo
É alta noite.
No silêncio do céu, a lua
No silêncio do quarto, a musa
O poeta, no silêncio da sala
(não ousa interromper a beleza graciosa do sono da musa à luz da lua)
a lua, atrevida, espia pela fresta da janela
a musa envolta em lençóis e sonhos prateados
o poeta em ardentes desejos
a luz da lua acaricia a musa
e invade o pensamento do poeta
é quase manhã
a lua quer se despedir
o poeta ousa
e vai ao quarto
a lua invade o quarto
no silêncio do quarto a lua
no silêncio do quarto a musa
o poeta no silêncio do quarto
os três, agora cúmplices, entre sussurros e murmúrios, são somente um.