:::: A CANÇÃO QUE FALTA ENTOAR ::::
Os beijos que efetuam os paradoxos da vida,
Criam no seio da imaginação o paradigma da morte.
A canção mais bela permanece em silêncio
E a melhor resposta ainda não foi dada.
O peito dilata e a alma venera
O desconhecido que está na janela.
O teto desaba e o corpo recebe
A brisa que vem debaixo da porta.
Os olhos discorrem no mudo tom das catacumbas
E a noite me furta mais um holofote.
O riso rijo não é suave como o beijo
Dos casais apaixonados nos cais.
E amargo castigo é o pobre o desejo
Que passa a largo passo do sonho de paz.
A respiração para. O peito sufoca.
Passa ar pesado em goles de pedra.
Deita na cama meu corpo qualquer,
Sente pontos do mundo no lado de dentro.
Dorme acordado no cansaço da lide
E sonha de novo. Não sabe o que quer.
Pode fingir que não sente nada,
Mas não é verdade, sente tudo!
Sente até demais...
Sente cada instante, cada segundo.
Cada sede de beijo ou sede de água.
Sente falta da paz...
Se dorme ou se acorda. Se bebe ou se come.
Assusta-o sentir, sentir tão intensamente.
E como um dadaísta que caiu do coração
Escreve com ímpeto e socos no muro.
Mas, veia romântica, te surge o louro
Sonho silencioso sem verbo ou escrita.
E assim te despertas pro gole de vida.
E assim te despertas a beijar paradigmas.
E assim te despertas tão bom a sonhar.
Acorda peregrino das algemas cruéis,
Levanta em silêncio que hão de escutar,
O passo ligeiro por detrás da vida,
O passo que deste pra da morte escapar.
Porque nos teus paradoxos, paradigma não há.
E desperto percebe que teto não há,
Não há paradigma, parede ou sofá.
Há criações, liberdade e o pensar.
E assim te despertas que paradigma é pensar
Que te leva ao encontro do paradoxo de amar
Que é o sonho silencioso sem verbo ou escrita,
A canção que estava em silêncio
A resposta que falta encontrar.