A tua boca
Hoje a minha boca procurou a tua, ávida,
nos beijos telúricos, ternos e inacabados,
dum estado devoluto de tempos por viver...
E a encontrou em cada coisa, em cada lugar,
eternamente quente, delineada e adjacente...
No rasto da água e dos atalhos
No rastilho de um cometa a reluzir
Na vaga brava da onda a desfazer
No acasalar das urtigas com as formigas
Das cigarras com as maçarocas dos milhos
Dos esquilos com os restolhos das searas
Que a tua boca, vem de lá de eras longínquas
e faminta, desce translúcida, diáfana, alongada,
sobre o meu corpo, no calar da noite ao soprar
de todas as madrugadas.
Sonho ou realidade (que importa na verdade?)
acordo em permanência envolta nos beijos da tua boca,
nesta alquimia magnificente de duas crateras coladas,
escorrentes em lavas e em fluidos sem palavras ...