Viemos longínquos, profícuos ...
Viemos de um longínquo espaço, lá mais atrás
onde o Sol adunco se insinua, e louco, a cada aurora,
acorda cortejando a Lua.
E a Lua, navega verde e nua no caudal acerbo do rio,
e banhada, se santifica, oferta, a cada final da madrugada ...
Viemos longínquos, profícuos, de assas francas, abertas,
a caminhar bravas vagas, em danças igualmente exaltadas,
em todas as estradas do mar.
Transportámos sementes de tempos já vividos
e o reconhecimento na corrente quente do sangue.
Trouxemos nos cascos as marcas das nossas cicatrizes
e no porão, mil tesouros e o silêncio cavado das raízes.
Por nós, a serra serenou no vento a chichorrobiar,
os lobos deixaram até de uivar. Por nós, o Universo,
quase parou de girar, para que nos encontrássemos
neste mistério profundo.
Longínquos, mudos, deixámos por nós falar, as árvores
erectas dos mares e, nas planícies fomos ecos do luar.
Hoje somos a dogmática certeza de duas vidas a cruzar,
provindas da inicial matriz dos ancestrais Incas Mundos.