OLHO DE VIDRO

seguramente porque estou morto o amanhecer é tão terrível

e o sublime a indagação que faço ao saber que a eternidade

é coisa diversa do rótulo q'os metafísicos aplicam aos incautos,

como entender princípios se o canto do galo

é o limite da sanidade que desde muito deixei na escola,

quando o sonho pelo olho de vidro era a única realidade?

a administração do crime fixa a idiotia na condição de retórica indagativa,

como proceder quando animalesco for tudo de supremo que restou,

porque do espírito as sombras gritam quando arcos de pirilampos

servem ao ancião que vasculha o sinal do anjo

aonde a cabeça do mártir está guardada embaixo da folhagem,

e a infâmia não pode tocar a razão,

mantido apenas o sonho do poeta a estátua desvanece

quando açúcares impulsionam o tempo num carnaval

de motores incontidamente sangrados,

na mais solene sensualidade do consumo,

quando religiosos penduram as fardas

na espinha do tubarão e penetram na ferocidade persa do mercado,

quando monges manipulam a vela das mutações,

na praça em que os assombros restam máscaras retorcidas