Sábio amante
Houveram os dias em que
a corja vã a ninguém importava,
Esses foram os dias de luz,
Os grandes dias.
Nesses dias de Romeu os
Olhos deixavam de olhar,
Para se darem ao dom de
Dizer a quem amar.
Era a época das damas em
Vestes cor de carmim, e dos
Cavaleiros cor de metal, galantes
sobre garanhões alados.
Foi há muito o tempo
Do cego romantista e da
amável dama, que hoje nada é
Além da fútil fama. Ah, Julieta!
O que fizeram a ti?
Perdido está seu arquétipo romance.
E onde está o seu galante Romeu?
Teu amor morreu à queda do aquário, para sempre!
Dizem-nos eles que o que foras
É escória do que hoje és,
E que tal lástima não lhes
Chega aos pés. Malditos são!
Proso que antes fosse uma lástima
Que o amor canta, a um
Sábio que a isso nega. Mas
Sabe que sou profano
Pode-se dizer calúnia
O que digo e não consinto.
E nada haveria a mim dizer-te, senão
As desculpas de um jovem que sonha.
E assim faz-se verdade o que digo
Com esse simples apelo, pois não sou
O amante perfeito, tampouco o sábio que ensina.
Mas apenas um jovem que sonha.
Tenho em mim os sonhos teus.
Quem dera fôssemos nós todos um só:
Seríamos o explorador que tanto ama;
E o amante que tanto busca.
Então seria este o maior dos amantes,
E o mais sábio profeta. E o moleque
antes julgado delirante, nada fez
além de sonhar em um dia o ser.
Assim eu, que rebaixo-me à
Profano, jovem mentiroso,
Nada vos digo além de sonhos.