SINTO MUITO
Por que eu finjo
que nada mais sinto?
Fico enganando a mim mesmo
como se não sentisse
a falta de beijos mais quentes,
da emoção de encontros proibidos
do tesão latejando de excesso de libido.
Por que eu tento, invento,
porém, sem qualquer intento
fico por aí gritando em silêncio,
aos quatro ventos,
que consigo viver sem o amor,
sem o carinho de mãos macias.
Sem causa, ainda que rebelde
jogo minha revolta no fundo branco
enquanto palavras tortas
vão dando vida a um sentimento morto
Sim, estou vivo, ainda que pareça que não
Em vez de sobreviver,
queria poder,
acreditar naquela velha utopia
em que viver plenamente
passe pelo morrer do amor.
Que falta sinto dessa ingenuidade,
tanto mais quanto me embriago
com doses duplas de racionalidade.