Amar
Amar é um verbo difícil
De se conjugar
Porque quer permanecer sempre
No infinitivo
Sua terminação quer se eternizar
Esconder os conectivos
Os vocativos
E os pronomes afetivos
E nas pequenas coisas
Ele entra em profunda contradição
Como repartir uma maçã
Ao meio
Um pedaço de pão
De centeio
Escrever um poema de amor
Que não rime com metal
E que a contagem das silabas
Seja pronunciada com o pulsar
Do coração
E os seios que amamentam
O quasar
A via - láctea que leva
Suas estrelas para passear
De velocípedes nas noites
De luar
O espantalho que cuida
Do milharal
Do bico metálico dos corvos
Os nervos do girassol
Que acompanham o roteiro
Do sol
E as vísceras da lagarta
Que abrem os olhos
Diante da lavoura florada
Polinizada pelas tempestades
Conjugando-o no presente perfeito
O verbo amar se torna um pretérito
Repleto de saudades.
Luiz Alfredo - poeta