Poema para balanços.
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Montanha russa, roleta russa, bonecas russas:
matrioskas, Maiakóvski. Tenho sonhos de amor que não se curam.
Tenho cicatrizes horrendas, mas ocultas na derme.
Espero um príncipe encarnado como todas as mocinhas de folhetim.
Conto moedas, namoro figos que não como, adio partos,
atraso correspondências.
Adoraria ter a chave que abre mentes muito cerradas. Mas não tenho.
Sou mãe todas as horas do tempo. Sou mulher a cada ciclo do espelho.
Às vezes me acho muito feia, outras vezes me acho bela. Às vezes nem me acho.
Escrevo poemas sem nenhuma finalidade. E sempre me aborreço com o excesso de finalidades e funcionalidades das coisas. Prefiro descobertas a ler manuais.
Amei e não fui amada. Fui amada e não percebi. Não amei.
Adiantei relógios, compus canção de barco e ventania e depois rasguei.
Quando minha mão coça sempre penso que vou ganhar dinheiro. Nunca ganhei.
Desemborco chinelos porque tenho medo que minha mãe morra. Um terapeuta disse que fazia parte do meu desejo. Dispensei o terapeuta e continuei com o medo.
Adoro flores. Por isso namorei um dono de floricultura e fui especialmente feliz enquanto durou.
Conheci muito cedo a cultura do trabalho. Lavei banheiro coletivo. Por isso aprendi como é fácil ficar invisível.
Fiz muitos amigos. Achei que nunca teria inimigos, mas alguns inimigos me acharam sem muito esforço.
Balanço? Gosto muito. Outro dia fiz uma arte no parque. Sentei num deles e me embalei bem alto por pura traquinagem.
A vida é realmente breve. Nós somos realmente finitos. O tempo passa sim rápido e nos engole. A vida é dura como minha avó dizia; o mundo é um lar, uma fabricação de sentidos. Gastei muitos dos meus dias vivendo e mesmo assim fico extasiada ao viver, como se fosse o primeiro deles, como se tivesse sempre acabando de chegar.
Patricia Porto