A dois
Qualquer dia desses eu vou te dizer o que penso,
vagar ao infinito, elevar o pensamento
e te propor o mundo.
Qualquer dia desses eu desço do salto,
armo barraco, fala bobagens, bagunço teu cabelo,
deito na relva, durmo de calça (jeans),
te deixo brava e escuto música clássica.
Quebro teus discos bregas
e te esfrego a minha vida por completo.
Qualquer dia desses eu reclamo do café, não como o jantar
e me delicio com um copo de suco, de mastruz sem leite.
Deixo a cerveja quente, abandono os quitutes e sujo a sala.
Bagunço nossos lençóis, escondo o controle da TV
e ligo o som bem alto. Ouvindo horário político.
Qualquer dia desses eu danço com outra,
eu penso em você
e me enamoro da saudade que tu me fará.
Qualquer dia desses eu te digo a verdade.
Que assim, e por maldade, minha vida sem ti é penar.
Misturo a calcinha com o terno azul que tu amas,
deixo a toalha onde tu reclamas, levanto a tampa
e a privada vira pública.
Deixo a luz acesa, a cama desarrumada e a porta aberta.
Qualquer dia desses eu esqueço aniversario, namoro, inicios.
E não mando flores. Mando uma cesta que engorda.
Qualquer dia desses eu chego atrasado, só pra te ver dormir
um pouco mais.
A rima é pobre, o texto é corriqueiro.
A vontade é tanta, que pouco me espanta
se tu não gostar.
Mas, eu sei que depois, como feijão e arroz
nos teus braços vou descansar.
Qualquer dia desses eu te dou um sorriso,
mesmo que tu não peças...
quero prever teu sofrer, amenizar tua dor
e esbanjar alegria.
Te fazer sorrir mesmo precisando...
Pois para mim, assim se faz um dois.
Qualquer dia desses.