Não me traduzo em minhas palavras
IX
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem. (Manoel de Barros in: O livro das ignorãnças)
As palavras estão aí
Palavras bem ditas
Palavras mal ditas
Elas coexistem
Nas bocas das gentes
De cada um e de todo mundo
de pessoas más
e de inocentes
Resvalam pelo vocabulário chulo
Completam frases que dão engulhos
Nomeiam o real e o imaginário
As coisas santas
E as profanas
As que convencem
E as que enganam
Ludibriam
Levam ao desvario
Ah palavras
Insanas
Ora amenas
Ternas
Feito carinho de mãe
Ou
Pontiagudas
Ferinas
Dolosas
Na intenção de machucar
E a emoção que toma conta
Do coração
Vez em quando
Com olhar pidão
Querendo afago
Se consumindo nas delícias
Do sentir-somente
Sem sofreguidão
Sem se escravizar nas horas
Minutos
Segundos
Ah,tempo
Tempo
Tempo
Senhor absoluto da razão
Dono de todos os rótulos
E conceitos
Efêmeros ou não
É por ti que os sinos dobram?
É por ti que as imagens viram conceitos
E ficam num canto
Empobrecidas
Sem guarida
Esperando o poeta
Ou uma pessoa plena de amor?
O conceito se eterniza
Enquanto o que se vê
Fica na memória
E o que se sente
Vai pra alma
E dura uma vida inteira
Mas as ignorâncias
Da existência
Sedentas de perpetuação
Não querem mais o sentimento
A emoção simplesmente
Querem não
E o mundão de meu Deus
Vai ficando doido
Doído
Perdido no infinito de palavras
Bem ditas
Mal ditas
Mas que não se impregnam
Feito tatuagem
Não viram miragem
Se tornam tão somente
conceitos
IX
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem. (Manoel de Barros in: O livro das ignorãnças)
As palavras estão aí
Palavras bem ditas
Palavras mal ditas
Elas coexistem
Nas bocas das gentes
De cada um e de todo mundo
de pessoas más
e de inocentes
Resvalam pelo vocabulário chulo
Completam frases que dão engulhos
Nomeiam o real e o imaginário
As coisas santas
E as profanas
As que convencem
E as que enganam
Ludibriam
Levam ao desvario
Ah palavras
Insanas
Ora amenas
Ternas
Feito carinho de mãe
Ou
Pontiagudas
Ferinas
Dolosas
Na intenção de machucar
E a emoção que toma conta
Do coração
Vez em quando
Com olhar pidão
Querendo afago
Se consumindo nas delícias
Do sentir-somente
Sem sofreguidão
Sem se escravizar nas horas
Minutos
Segundos
Ah,tempo
Tempo
Tempo
Senhor absoluto da razão
Dono de todos os rótulos
E conceitos
Efêmeros ou não
É por ti que os sinos dobram?
É por ti que as imagens viram conceitos
E ficam num canto
Empobrecidas
Sem guarida
Esperando o poeta
Ou uma pessoa plena de amor?
O conceito se eterniza
Enquanto o que se vê
Fica na memória
E o que se sente
Vai pra alma
E dura uma vida inteira
Mas as ignorâncias
Da existência
Sedentas de perpetuação
Não querem mais o sentimento
A emoção simplesmente
Querem não
E o mundão de meu Deus
Vai ficando doido
Doído
Perdido no infinito de palavras
Bem ditas
Mal ditas
Mas que não se impregnam
Feito tatuagem
Não viram miragem
Se tornam tão somente
conceitos