Quimera

Tarde de outono.

Me encontro deitada em um velho divã.

Olhos fechados,

Por alguns segundos só há escuridão.

Mas eis que surgem as lembranças,

Em tons de lilás e azul,

Vêm como crianças,

Trazendo alegria ao meu solitário coração.

Vejo os teus olhos a fitar os meus,

Sinto a tua mão na minha mão,

Ouço, em sussurros, a tua voz

Dizendo que tu me amas.

Contemplo os verdes campos,

E a flor de lótus que um dia me destes.

Estamos sentados

Comendo bolinhos sobre uma toalha xadrez.

É um quadro de sonho.

Cantas baixinho,

Imitas o som do rouxinol,

Tua voz para mim é puro encanto.

Então, sem mais nem menos,

Vejo-te partir!

Teu rosto transforma-se em sombras,

Ecos da tua voz ressoam em minha mente,

E tua mão já não segura mais a minha.

Uma lágrima mancha o teu rosto,

E esta é a última imagem que tenho de ti.

Abro os olhos,

E um raio corta o céu tempestuoso,

Vejo a derradeira luz, do dia que se finda.

Percebo então que mais uma vez estive sonhando,

Quimera de quem nunca sofreu.

(29 abr. 2013)