Doce Veneno
A boca serena, sereno o semblante,
serena manhã, sono edificante.
Lá fora o sereno dissolve num instante
o doce veneno que, recalcitrante,
num breve aceno promete voltar...
E eis que ele já, pela tarde esquecida,
imagina tirar-lhe alguns anos de vida
se ela evitar que lhe curem a ferida
e não acordar, a bela adormecida
que toda manhã ele vem espreitar...
Mas toda manhã tem sereno
ou, pelo menos, orvalho.
Eu é que sei que não valho
daquela sua boca o mel...
Rio, 23/04/2005