Rotas de sal e rosmaninho
Não existem certezas absolutas no traçado impoluto
dos nossos cruzados caminhos; nem sequer experimentados
marinheiros, ousam adivinhar os imprevistos perigos de rotas...
Se até as claras águas travam lá nas nascentes
lutas maiores e interiores, antes de implodirem de gotas
lá no cimo cimeiro dos montes...
E de gotas logo fontes, e mais logo fumes riachos, ribeiros...
a comportar batelões ou navios ...
E as gotas florescentes são rosas, frondosos rios ...
a desaguar num mar, louco de se abraçar em correntes ardentes
de afagos secretos ... milenares meiguices, carinhos ...
E se o traçado reminiscente dos poeirentos caminhos da gente
tem a marca das raízes no calcorrear do pretérito...
E as pedras das calçadas, tem ainda coalhadas
as marcar ensanguentadas de batalhas. Crostas e cicatrizes...
E agora desenhadas, brilhos, colores da flor do sal,
rosáceas buganvílias e lilases rosmaninhos ...
**
Meu amor, escuta agora os risonhos trinados
e os chilreios povoados de príncipes passarinhos ...
Ouve e anota a lição dos seus gorjeios....
Atenta na linha esbatida das suas frágeis asas...
São ancestrais direcções, são estradas traçadas
na matriz d’águas... de muitos pelicanos, gaivotas ...
Olha o teu e o meu peito ... que as temos tatuadas ...
em linhas pré-cruzadas. O teu colo nos meus seios...
Nesta viagem que completámos, para nos encontrarmos
no sonho, girámos nós e a terra ... Em veios, silvados de
Amoras ... E, meu querido, eis agora chegada a hora.
Despe-me de espumas, veste-me de coisa nenhuma ...
Entrega-te sem reservas à audácia da descoberta.
Não silencies as palavras, abre-as fulvas, rubras.
Pétalas em cacho, em erupção, sobre a alma assedentada
da tua amada.
Planta em fio e em baba, plantios de beijos bocas.
Planta-os, nos mais altos dos teus e meus receios e,
nessa magia, nesse encanto, navega o verde olhar do
meu canto.