AMORES DE OUTONO

As águas de março se foram,
Lavaram todas as lembranças,
Dos efêmeros amores de verão,
Que não resistem as estações.

Caem as folhas, permanecem as raízes,
Os ventos sopram as desventuras desfolhadas,
Ficam as razões para sobrepor-se às tormentas,
Até que a primavera as fortaleza e se faça flor.

Quero um amor enraizado de outono,
Quero as tardes de sol cândido a me aquiescer,
Assistir a dois as folhas se debulhando,
Enquanto o rebento se prepara para renascer.

Sonho um amor de outono,
Sem a volúpia dos encantos do verão,
Que as águas levam sem deixar saudade,
Restando fugaz lembrança feita chuva ligeira.

Quero um amor de encanto outonal,
Feito as tardes cálidas de céu límpido,
De friozinho convidativo ao aconchego,
Que aflora a vontade de partilhar carinho.

Prefiro a melancolia partilhada,
A que o outono sempre nos incita,
Que a tormenta desenfreada da paixão efêmera,
Ou às torpes cores com que a primavera nos ilude.



Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 16/04/2013
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