Utopia
o céu, roxo como a cor da estação
os lábios, sussurrando nosso silêncio
os olhos, mentindo - tentando - a angústia
os braços, não a deixavam ir.
ele diz algo ali, aqui, lá... nós.
atados como nós...
resistiremos nós às reticências?
revidaremos sós, ou sós não duraremos?
fizemos o nada virar tudo.
fizemos nada, em quase tudo... e todo momento;
foi tudo o que deixei... foi nada em momento algum.
fiz nada pra ser seu tudo... tudo bem. - sério? nada.
queria, mas não deixou que as palavras tomassem conta
o coração forçava a garganta, mas ele o tragava de volta
as lágrimas acompanhavam a longa descida até o peito
deixou estar... e a deixou ficar.
não olhou pra trás, pois não queria suas costas
como ultima imagem/lembrança de partida
foi o ultimo sorriso, e os últimos desejos
pelo menos daquela vez.
o caminho de casa era longo... muita gente, mas só.
conforme afastavam-se as estações... verão, inverno...
"o teu calor, me cala o frio." - disse-lhe.
a cidade grande já não tinha mais graça, naquela noite.
ele parte, chora, sonha, repete, reflete, surta, dorme.
acorda, desespera, finge, espera, desperta, desaba.
está de volta à sua realidade... mas e ela?
ficou lá... com a promessa do retorno.
não a queria presa, mas se prendeu a ela
não sairia do teu lado, mas a viu partir na outra direção
não cairia em pranto, mas os olhos não suportaram
não dormiria, mas onde a encontraria se não fosse em sonho?
ficaria com ele o suficiente para vê-lo cantar?
sim, foi assim.
Acabaram cantando juntos, em conjunto e tudo mais.
Você foi o meu tudo, quando eu já não esperava nada.