A boca dela.
Jamais esquecerei seu lábio inferior por entre meus dentes. "Será que posso levar um pedaço para morder depois?" Claro que não, idiota! Liberto sua língua para ouvir sua voz, esperando a vez do silêncio para ficarmos sós e invadirmos nossa verdadeira dimensão, onde as sílabas são salivas. Quero arrancar essas pétalas, mas só posso tocá- las e ir embora. Se os meus encaixam nos seus, porque separá-los, Deus? Para se procurarem? Que enredo fresco! O beija-flor possui a liberdade, que se torna pouca por não conhecer sua boca, pois flores secam e você está cada vez mais molhada. A noite chega, louca para ver seus lábios, mas hoje está nublado, hoje estou ao seu lado. Se chover, a saliva dissolver e ir embora, ainda tenho todo o seu rosto para contemplar, mas isso é outra história. Sua língua me recebeu como um velho amigo, um abraço macio, meio fácil, meio vício. Sei de sua boca eclética, meio sem ética, seduzindo o ótico e o próximo. Senti seu doce e sua prática, e se eu fosse diabético? Talvez morrer pela boca seja ruim, mas morrer por sua boca é assim, o estopim da ida ao paraíso. E se o inferno existir? O importante é que já senti teu fogo. E se o céu não existir? O importante que senti teu gosto. E se Deus existir? Perguntarei porque a perfeição tange a tentação. E se não existir nada além da morte? O que seria lógico e mais didático, pois sua imagem pálida e seus contrastes, contradizem as tradições ditas, escritas e tidas como razão. Antes eu queria entender o infinito, hoje quero entender o sentido disso se estou contigo.