GUARDA ROUPA FANTASMAGÓRICO
Guarda-roupa fantasmagórico
tenho todo esse espaço
e fico admirando as paredes
num branco cego
meu guarda roupa
calado, fechado
velhos vestidos saindo
como em todas as manhãs
perfumados na melhor fragrância
com meias altas
botas negras de cavaleiros
apocalipse nos cílios
salto cravado peito
do homem másculo
do chão mole
quase seco... um lustro
brilho falso
vermelho ao negro mais profundo
mais nefasto, sempre nefasto
as costas são dadas
sem palavra de fato
lenços de lágrimas
anáguas de amor, singelo ato
cintos de apertar
garganta de chorar
ou rir, perdoar
dependendo do maxilar
de quem monossílaba
possa me admirar
e assim dizer
que ainda me ama
no leite deveras morno
nichos violetas plásticas
na hipocrisia dos fatos
do laço franjado
no tornozelo corrente
pra sempre amar
desfiando as horas
sem mais
costura alguma
Cíntia Thomé
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