O amor é poesia física

quem não ama não sofre:

não perde noites de sono,

não se atordoa em pensamento,

não vive a angústia da distância,

do tempo, da saudade...

(ah, a saudade! que sentimento cruel!

maldita língua portuguesa!

maldita emoção sem razão

que vem ninguém sabe donde

e vai em direção a um só porto:

o que a criou, a fonte donde

brota esse anseio irreprimível,

que vaza, irrecuperável,

indelicado)

quem não ama não sofre:

vive sem sofreguidão

como num filme sem guião;

os odores, imagens ou palavras

não remetem a nada,

não são nada a não ser o que são;

nada de símbolos!

nem se calhar.

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mas as vezes calha de amar:

aí não tem jeito:

o céu, o sol, o mar

tudo fica reduzido a detalhes

e retalhos de imagens, palavras

símbolos e odores:

tudo remetendo ao mesmo ser

quando calha de amar

há uma precipitação metafísica

do espírito que quer transbordar

e pular fora da margem

e viver só de um sentimento

entre outros tantos sentimentos

quando pulula o coração de amar

o homem descobre

que a tão gasta expressão:

um aperto no peito

não tem nada de licença poética,

não é fingimento, lírica, ou romantismo:

é coisa física que arde, dói,

não pede licença

mas conforta e apraz

demasiadamente;

um doce azedume...

O amor é poesia física.

Vander Vieira
Enviado por Vander Vieira em 06/04/2013
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