Pavana Gris

Ando assim, meio nublado,

com neblina no olhar

e uma chuva de saudade

gotejando pelos dedos...

As palavras se derramam

em goteiras infindáveis

que inundam o silêncio

com uníssona sonata.

Que estranha serenata:

o relógio e as goteiras

ensaiando, num dueto,

a insônia em dó maior.

A garoa se alastra

dos meus olhos para dentro

e sinto a alma molhada

de uma tristeza infinita.

Às vezes tenho a impressão

que nessas noites de angústia

bastava fechar os olhos

para morrer... Se quisesse...

A gente não tem domínio

Sobre o que domina a gente

quando essa tal de saudade

apunhala a solidão.

Ah! Traz a lua do teu riso,

as estrelas do teu riso

e devolve-me a aurora

que há na luz do teu olhar.