"ONDE ESTIVESTE, Ó MEU AMANTE" *
Onde estiveste, ó meu amante,
atrás de todos, ocultando-te nas sombras?
Eles te empurram e te deixam
na estrada poeirenta, sem se importar contigo.
Eu espero aqui fatigantes horas,
exibindo-te as minhas oferendas,
enquanto os transeuntes vêm e tomam
uma a uma as minhas flores
e a minha cesta fica vazia.
Passou a manhã e passou o meio dia.
Na sombra da tarde meus olhos
ficam pesados de sono.
Os homens que vão para casa encaram-me
sorriem e enchem-me de vergonha.
Fico sentada como uma pequena mendiga
puxando meu vestido sobre o rosto.
e quando me perguntam o que eu quero
baixo os olhos e não respondo nada.
Oh! na verdade, como poderia eu
dizer-lhes que te espero e que prometeste vir?
Como poderia eu, por pudor,
confessar que fiz desta pobreza o meu dote?
Ah! eu acaricio este meu orgulho no fundo do meu coração.
Sento-me sobre a relva e contemplo o céu
e sonho, com o súbito esplendor da tua vinda
---todo inflamado em luzes,
pendões de ouro voando sobre teu carro;
e eles à beira da estrada, boquiabertos,
vendo-te descer do assento para erguer-me da poeira
e fazer sentar-se a teu lado essa menina mendiga e esfarrapada ,
toda trêmula de vergonha e de vaidade,
como uma liana numa brisa de verão.
Mas o tempo desliza
e não escuto ainda as rodas de teu carro.
Muito cortejo passa entre alaridos e
esplendor de glória.
Tu, somente tu, hás de ficar na sombra,
silencioso e atrás de todos?
E eu, somente eu, hei de esperar e chorar
e consumir meu coração num inútil anseio?
*POEMA XLI do livro GITANJALI , de Rabindranath Tagore.
Onde estiveste, ó meu amante,
atrás de todos, ocultando-te nas sombras?
Eles te empurram e te deixam
na estrada poeirenta, sem se importar contigo.
Eu espero aqui fatigantes horas,
exibindo-te as minhas oferendas,
enquanto os transeuntes vêm e tomam
uma a uma as minhas flores
e a minha cesta fica vazia.
Passou a manhã e passou o meio dia.
Na sombra da tarde meus olhos
ficam pesados de sono.
Os homens que vão para casa encaram-me
sorriem e enchem-me de vergonha.
Fico sentada como uma pequena mendiga
puxando meu vestido sobre o rosto.
e quando me perguntam o que eu quero
baixo os olhos e não respondo nada.
Oh! na verdade, como poderia eu
dizer-lhes que te espero e que prometeste vir?
Como poderia eu, por pudor,
confessar que fiz desta pobreza o meu dote?
Ah! eu acaricio este meu orgulho no fundo do meu coração.
Sento-me sobre a relva e contemplo o céu
e sonho, com o súbito esplendor da tua vinda
---todo inflamado em luzes,
pendões de ouro voando sobre teu carro;
e eles à beira da estrada, boquiabertos,
vendo-te descer do assento para erguer-me da poeira
e fazer sentar-se a teu lado essa menina mendiga e esfarrapada ,
toda trêmula de vergonha e de vaidade,
como uma liana numa brisa de verão.
Mas o tempo desliza
e não escuto ainda as rodas de teu carro.
Muito cortejo passa entre alaridos e
esplendor de glória.
Tu, somente tu, hás de ficar na sombra,
silencioso e atrás de todos?
E eu, somente eu, hei de esperar e chorar
e consumir meu coração num inútil anseio?
*POEMA XLI do livro GITANJALI , de Rabindranath Tagore.