Haviam rosas, rosas, rosas ...
Havia um libreto, uma ária, um soneto por escrever.
Uma sede d’água lívida, rara e clara,
um verbo prescrito de um tempo vago e infinito.
Havia uma boca ardente de desejo
de plantios perenes, ondulados, de lábios em marés.
Num traçado de bisonhas estradas de salivas.
Beijos de aderentes bocas, debuxados até então
a conta-gotas no conta gotas da vida.
Havia um espaço aberto, imenso, desmedido,
mascarado pela luz do impossível.
E uma vontade tenaz de alcançar o inatingível.
Haviam lágrimas interiores arrecadadas em prantos mudos,
escoadas balsâmicas sobre as feridas mais profundas.
E o prazer de compartilhar silêncios, adivinhado,
após o romper dos nevoeiros mais cerrados -
aqueles que povoam perenes os dias mais soalheiros.
Haviam rosas, rosas, rosas, maceradas em cidras
de inebriantes olores. Pétalas soltas, pedras preciosas
a matizar o vazio dum espaço continuamente ausente d’abraços.
Haviam certezas de que os corpos reconhecidos
se abraçariam perenes em arroubamentos infantis de ternuras sem fim.
Solidárias, solitárias ... se abraçam agora as árvores do Jardim!