EU AMO VOCÊ, MESMO SEM QUERER

Faço frases

Sem nexo, sem qualquer conexão

Meu coração está partido

E eu pouco fiz para consertar

Escrevo na ausência de poesia,

Porque a poesia é o sentimento que me faz seguir adiante

Mas recentemente o que me leva adiante

São dois pés esquerdos sem coordenação.

Ainda não inventaram sapatos e decepções

Com formas maiores e deformadas

Que caibam dedos curtos e vincos gotejantes.

Escrevo na ausência de estrada,

Porque retinas masoquistas

Acostumam com o escuro da existência.

Pior do que ser um cego em meio ao tiroteio

É ser vidente em meio ao caos da vida

De olhos abertos,

Desviando de cada bala perdida,

Acertadas em cheio na coluna vertebral

Da normalidade fracionária

O que eu quero dizer,

É que eu não sei mais o que dizer

A verdade é que eu nunca disse nada

Passei a vida inteira calando o obvio

Para dar voz ao surdo-mudo da pureza.

Tão puro que nada vê,

Tão puro que nada sabe.

Tão irreal quanto o branco do papel

Que absorver todas as cores,

Todas as carnes,

Todos os amores.

A vida que eu levo

Não é a vida que eu escrevo.

A vida que eu levo

É a vida que eu ando,

A vida que brota na poeira,

Que cria casca nos matos, nunca raízes.

Pra vida que eu ando correndo,

Eu mal sei engatinhar.

Pra vida que eu ando arrastando,

Eu só sei pedir pra parar.

Mas nunca parei.

Amanhã eu sossego,

Amanhã eu escrevo,

Amanhã eu te quero.

Os caminhos de ontem não contam mais

Escrevo na ausência do meu cansaço

Porque os tais caminhos me levam a escrever

Na ausência da poesia,

Na ausência da estrada

Na ausência de você

Eu caminho errado

Eu escrevo errado

Eu vivo errado

Mas eu amo você

Mesmo sem querer.