BREVE
Não, não se curve, aparecerão notícias dos amigos,
as pedras já não são tão duras,
os caminhos não são tortuosos, o amanhã
nascerá sempre com um clarão.
Aquele gosto queima adocicado na boca,
insiste impregnado na pele tal e qual
um gozo que não se esquece,
um prazer de antes que ecoa no futuro.
Queime a falsa esperança, vã e sem propósito,
a esperança tola dos iludidos,
aquela que fere e mata e troque-a pelo
valor pleno da possibilidade do amanhã.
Tudo deixa de ser ao simples erguer de cabeça,
ao toque lúbrico dos dedos pertinazes,
onde a vida sobeja, sagaz, viril, úmida
de desejos inflamados.
Oh, teremos lá adiante as casinhas coloridas,
teremos a praia, o vento obstinado
a castigar tenazmente nossas faces coradas,
coradas por essa possibilidade de sermos uma coisa.
As mudanças de hoje, fugazes, serão
esquecidas como tudo mais, como tudo, todos,
mas as coisas eternas não são as imutáveis,
são as pequenininhas, que só nós sabemos,
as jóias de valor inestimável que temos agora
e tornaremos amanhã, em breve, no amanhã.
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