VOCÊ

(29/12/2005, 4 dias após o natal e 2 antes do reveillon).

Felizes os dias em que estive contigo e ao teu lado!

Quando me distanciava por um momento, as lembranças eram tão claras que pareciam ao alcance das mãos e à um palmo dos olhos: boca carnuda e dentes brancos a sorrir; voz metálica que me enlouquecia de paixão; cabelos – um misto de cor mel e ouro - balançavam sob o sol quente, as manhãs nubladas ou penumbra de um quarto... Tudo valia a pena e tudo era lindo e brilhante!

O dia já me amanhecia sorrindo. Os pássaros, os poucos pássaros que encontrava, pareciam dar-me as boas-vindas e um "bom dia" a cada pedaço do dia, pelos caminhos e ruas que trilhava!

Dormia todas as noites inebriado e embriagado pela certeza de que o dia ia nascer novamente e que certamente você estaria viva em minhas lembranças e em meus pensamentos e eu a encontraria novamente para renovar a minha paixão e a minha platônica escravidão pela mais espetacular criação da natureza: VOCÊ!

Os dias foram se passando e já não te vejo ou te ouço. A Minha cabeça já

começa a dar os primeiros sinais de deslembrança. Procuro de um lado, procuro de outro, mas minha indelével memória já não é mais tão completa e tão ávida.

Preciso procurar cartões de natal, bilhetes escritos à mão para configurar a sua imagem, mas ela vem efêmera e espedaçada.

Mantenho os ouvidos aguçados e de prontidão, na tentativa de recobrar os sons do teu riso e da tua apaixonante voz, mas inúmeras vezes essa concentração se faz em vão, quebrada pelos sons barulhentos das cidades ou mesmo pelo vazio e oco som do silêncio perturbador!

Isso me destrói e me consome aos poucos. Já não agüento mais tanto sofrimento assim.

Refeições deliciosas e pratos chiques, pessoas agradáveis e com senso de humor, uma boa partida de carteado ou xadrez, distração no clube, viagem a um lugar paradisíaco, nada disso basta!

A Romeu só interessava Julieta, apesar de na rua {com certeza) estarem passando dezenas de outras garotas tão belas quanto ela; ao amante de Rapunzel, também, aquelas longas trancas eram ímpares; Deus deve ter "construído" mais outros homens e mulheres após Adão e Eva e tantas outras maravilhas da natureza. No entanto, Adão converteu todos os seus olhares e as suas energias à cativante Eva, inclusive sucumbindo à tentação por ela instigada...

Assim sou eu: pobre moribundo; sem alegria, nem dor, nem sofrimento. Sem água, nem sede. Sem comida, nem fome. Sem nome, nem sobrenome. Sem azar, nem sorte. Nem presente, nem ausente. Nem perto, nem distante... falta o

meu "alimento predileto".

Um "lindo" pássaro me pousa à janela gracejando e já não me dá graça: - xô, passarinho, vai-te embora, já não sou mais poeta!

É assim que passo os meus últimos dias!

REMI AMORIM
Enviado por REMI AMORIM em 19/03/2013
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