Tu voltas?
Se me falas dessa dor, que tanto falo
se falas, amor, desse amor
que me cutuca, me transfigura e me cura
se me falas, essa voz
e tão logo partirias
desatando o nó das provocações
certifico se o céu ainda imita tua arte,
o contraste nublado e o toque
dourado que o sol empresta às nuvens
descansa, saudosamente, para nunca
os planos sem fundamentos, e atraem
delicadamente a um passeio brando
assim tarda toda a madrugada na
amargura santa de uma lamparina
Se tu logo voltasse, nos convidaríamos
a abrandar o calor, guardaria teu olhar
na mansidão, lavaria teu dorso, querido
nos banharíamos de ervas, e não
falaria mais em dor, nem em desespero.
mas se insistes em esconder os pensamentos
nas filas, longe dos arredores,
fico consternada ao ruído do destino
bem sabes o quanto a música alta
impede o fluxo da conversa;
mas é teu silêncio
conduzindo o ritmo
que nos reveza.